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quarta-feira, maio 09, 2018

18 dias depois... Morte de irmãos carbonizados ainda é cercada de mistério no Espírito Santo

Duas crianças mortas, um incêndio, uma casa interditada, uma pessoa presa, diversos depoimentos e muitos questionamentos rondam o caso da morte dos irmãos Joaquim Alves Sales, de 3 anos, e Kauan Sales Burkovsky, de 6, ocorrido em Linhares, Norte do Espírito Santo, na madrugada do dia 21 de abril.
Nas redes sociais surgem diversas teorias e as opiniões dos internautas se dividem. Nos noticiários, o assunto é pauta fixa desde a data do ocorrido. Em meio à especulações, notícias falsas e muitas dúvidas, a resposta das autoridades responsáveis pelas investigações é apenas uma: o silêncio.O fato aconteceu em um sábado, feriado. A mãe das crianças estava em viagem para um congresso religioso em outra cidade. Na casa, os meninos estavam sob o cuidado de Georgeval Alves Gonçalves, 36 anos, conhecido como pastor George Alves, pai do menino Joaquim e padrasto de Kauã.
Naquela madrugada, um incêndio atingiu o quarto onde os irmãos dormiam. O Corpo de Bombeiros foi acionado e as chamas foram controladas, mas os irmãos já estavam sem vida. Na hora das chamas, as crianças eram monitoradas por uma babá eletrônica.
Após o incêndio, os corpos carbonizados dos irmãos foram encaminhados para o Departamento Médico Legal (DML), em Vitória, onde foi necessária a realização de exames de DNA para identificação.
Depois que o fogo foi controlado, a casa, localizada na Avenida Augusto Calmon, no Centro de Linhares, foi isolada pelos bombeiros e pela Polícia Militar. A perícia técnica da Polícia Civil foi acionada e uma equipe do Corpo de Bombeiros fez uma inspeção para saber a causa do incêndio.
Na segunda-feira seguinte ao incêndio, o pastor George e a esposa, Juliana Salles, mãe das crianças, estiveram no DML para o recolhimento de material para realizar os exames de DNA. Na ocasião, George relatou para a imprensa o que teria acontecido na noite do incêndio. Veja a entrevista completa:George afirmou que sofreu queimaduras nos pés e nas mãos durante uma tentativa de salvar as crianças. Apesar disso, o médico perito que examinou o pastor teria encontrado pequenas bolhas nas mãos e nos pés do pastor.
No mesmo dia, Rainy Butkovsky, pai do menino mais velho, também esteve no DML e teve materiais genéticos colhidos. Muito abalado, ele disse que apesar de morar em Vitória e o filho em Linhares, eles eram próximos e o pastor cuidava dele como filho também.
Na primeira semana após a morte, a Polícia Civil ouviu o pastor e outras quatro testemunhas sobre o caso, sendo duas mulheres que moram na casa, mas não estariam no momento do incêndio. Também foram ouvidas duas pessoas que teriam ajudado o pastor George Alves no momento do incêndio.
Enquanto depoimentos eram prestados na delegacia, a casa onde aconteceu o incêndio e a morte dos irmãos passava por várias perícias. Na terceira delas, os peritos utilizaram um produto chamado “luminol”, que permite encontrar manchas invisíveis a olho nu. O recurso é capaz de detectar marcas de sangue e outros vestígios, mesmo depois de um incêndio e de o local ter sido limpo.
Uma semana após a morte das crianças, o pastor George teve a prisão decretada. De acordo com informações passadas por um investigador da Superintendência da Polícia Regional Norte (SPRN), o juiz expediu uma liminar com base no resultado dos exames de perícia e o pastor foi encaminhado para a 16ª Delegacia Regional de Linhares. Na ocasião, a Polícia Civil informou, por meio de nota, que a prisão de Georgeval Alves Gonçalves foi requerida para preservar o bom andamento das investigações. Ele foi colocado em uma cela isolada do Centro de Detenção Provisória de Viana.
No mesmo dia da prisão, a perícia realizada na casa encontrou vestígios de material biológico. A confirmação partiu do presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Espírito Santo (Sindipol), Jorge Emilio Leal, que informou que o material ainda demanda exame laboratorial.
Leal ainda afirmou que 30 peritos oficiais de diferentes setores trabalham no caso.Foi então que diversos detalhes da vida de George Alves começaram a aparecer. Antes de ser líder de uma igreja Batista de Linhares, o pastor era responsável por administrar um salão de beleza em São Paulo. Em publicações mais antigas nas redes sociais, o pastor mostra alguns dos trabalhos feitos. Alguns, inclusive, com a atual esposa, Juliana Salles, mãe dos meninos Joaquim e Kauã.
Dando continuidade às investigações, os médicos legistas do DML de Vitória retiraram amostras de urina, sangue e de órgãos vitais dos irmãos Joaquim e Kauan. O material foi enviado para análise e os exames podem apontar se eles foram dopados ou agredidos antes de serem carbonizados.
Após 11 dias do caso, foi realizada a perícia na casa, quando foi coletado material genético dentro do quarto onde os dois irmãos morreram. A coleta desse material é necessária para esclarecer etapa por etapa o que aconteceu antes e durante o incêndio na casa.
Foi neste mesmo dia que um grupo formado por cinco advogados de Minas Gerais e do Espírito Santo se voluntariou para defender o pastor George Alves. Na ocasião, Rodrigo Duarte, um dos advogados, que também é pastor e vice-presidente da Igreja Batista Ministério Vida e Paz, onde George ministra cultos, disse à reportagem da Rede Vitória que ainda não tinha tido acesso ao inquérito policial sobre o caso.
No dia 3 de maio, 12 dias após a morte, a pastora Juliana Salles, mãe dos irmãos prestou depoimento na 16ª Delegacia Regional de Linhares, por cerca de quatro horas. Por volta de 11h40, ela deixou a delegacia em uma viatura descaracterizada, sem falar com a imprensa.O mesmo material utilizado em uma das perícias realizadas na casa onde ocorreu o incêndio também foi aplicado no carro que era utilizado pelo pastor George. O veículo foi submetido à uma nova etapa da perícia da Polícia Civil. O uso do luminol pode permitir a identificação de vestígios, como marcas de sangue.
Na última sexta-feira (4), peritos e militares do Corpo de Bombeiros se reuniram com o delegado responsável pelo caso dos irmãos.Também participaram da reunião o chefe do DML de Vitória, Vanderson Lugão, e o comandante do Corpo de Bombeiros de Linhares, Tenente Coronel Ferrari. O assunto da reunião não foi divulgado.
No início desta semana, uma nova pista que pode ajudar na investigação começou a aparecer. Um prontuário médico do pastor George Alves, realizado por um hospital de Linhares (HGL) horas depois do incêndio que teria provocado a morte dos irmãos não relata nenhuma tipo de queimadura. O documento foi divulgado pelo jornal online Norte Notícias e confirmado pela Prefeitura de Linhares ao jornal online Folha Vitória.
Depois do incêndio, o pai de Joaquim e padrasto de Kauã teria procurado atendimento no hospital por volta das 6 horas. As informações contidas na ficha de atendimento constam abalo emocional, mas não queimaduras.
Na ficha está escrito que, no hospital, o pastor relatou o que tinha acontecido, que estava em choque e que tinha inalado fumaça. A ficha revela que não foram feitos exames e o pastor foi liberado. Já os exames feitos na investigação policial apontaram uma pequena bolha em um dos pés.
laudo dos exames de DNA nos corpos dos irmãos foi concluído nessa segunda-feira (07). De acordo com a Polícia Civil, os corpos foram identificados e já estão à disposição da família. No entanto, o caso segue sob segredo de Justiça, com acompanhamento do Ministério Público do Espírito Santo (MPES). 
De acordo com um especialista, o pastor George, que permanece preso, tem o direito de deixar a prisão para acompanhar o enterro e sepultamento das crianças porque como a fase é de inquérito policial, ou seja, de investigação e recolhimento de informações, o que impera é a Lei da Presunção da Inocência. Apesar disso, a Secretaria de Justiça (Sejus) afirmou que, até a manhã de terça-feira (08), nenhum pedido havia sido realizado.
expectativa é de que os corpos dos irmãos Joaquim e Kauã sejam levados para sepultamento em Linhares, cidade onde moravam. Segundo o superintendente de Polícia Técnico-Científica, delegado Danilo Bahiense, como os corpos permaneceram por mais de 15 dias no DML, os familiares precisam obter o chamado registro tardio de óbito para liberá-los. No entanto, para que o documento seja emitido, é necessária uma autorização judicial. 
As investigações sobre o caso continuam e seguem em segredo de Justiça. Nenhum detalhe é revelado pelas autoridades e só devem ser divulgados após a conclusão do inquérito. Por enquanto, o que restam são apenas dúvidas.

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